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João Vieira da Silva

Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação

 

Em Portugal, as doenças respiratórias crónicas atingem 40% da população portuguesa. As doenças respiratórias crónicas, de que são exemplos a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e a fibrose pulmonar, têm importantes consequências negativas para os doentes, nomeadamente a dificuldade respiratória de agravamento progressivo e a limitação nas atividades de vida diária (AVD) e na participação social e profissional, com perda de qualidade de vida. As exacerbações da doença respiratória crónica, por sua vez, aceleram o declínio clínico e funcional e são fatores de mau prognóstico e mortalidade. Com frequência as pessoas com doenças pulmonares sentem dispneia (falta de ar), fadiga e desconforto com as tarefas mais básicas do seu quotidiano e têm tendência a reduzir a sua frequência e intensidade. Tornam-se assim mais sedentárias e isoladas.

 

De acordo com a definição da “American Thoracic Society” e da “European Respiratory Society”, a reabilitação respiratória (RR) é uma intervenção baseada em evidência científica, multidisciplinar e voltada para os doentes com doenças respiratórias crónicas que são sintomáticos e muitas vezes apresentam diminuição na capacidade de participar em algumas AVD’s. Trata-se, portanto, de uma intervenção abrangente, no sentido em que não se confina à doença pulmonar, mas às várias repercussões físicas e psicológicas impostas pela doença respiratória. É dirigida a pessoas com doença respiratória crónica e inclui várias intervenções terapêuticas, adaptadas individualmente, para melhorar o desempenho físico e psicossocial e promover a adesão a longo prazo a comportamentos e estilos de vida que beneficiam a saúde.

 

O sucesso dos programas de RR centra-se sobretudo “na sua capacidade de influenciar positivamente os efeitos sistémicos, nomeadamente o descondicionamento físico, a disfunção psicossocial e as comorbilidades, em particular a cardiovascular” (Direção Geral da Saúde, 2009, p. 2). Assim, estes programas desempenham um papel de complemento do tratamento farmacológico, aumentando a tolerância ao esforço melhorando a qualidade de vida, reduzindo a dispneia e minorando o impacto da doença nas AVD’s (Direção Geral da Saúde, 2009).

 

Na RR são executadas técnicas de controlo da respiração, onde os doentes aprendem a dissociar os tempos ventilatórios (inspiração/expiração) e, se têm acessos frequentes de tosse, aprendem a tossir de forma mais eficaz e a eliminar a expetoração que vai sendo produzida. A autogestão da doença e do seu tratamento implicam, entre outros aspetos, que o doente aprende a identificar as exacerbações e a saber o que fazer em cada caso, nomeadamente a hidratar-se, a cumprir a terapêutica prescrita e já otimizada, a utilizar os broncodilatadores (inaladores) com uma boa técnica inalatória e as técnicas de limpeza das vias aéreas e até, em alguns casos, saber iniciar terapêutica antibiótica e corticóide, por forma a evitar o agravamento que leva a hospitalização. Os benefícios do treino de exercício inserido em programas de RR capacitam os doentes a realizar as tarefas diárias que envolvem esforço físico, com menor dispneia e fadiga, maior autonomia e independência.

 

Mais recentemente, com o surto mundial de SARS COV 2, o papel da RR assumiu um papel preponderante na recuperação dos doentes que testaram positivo para a COVID 19, devido às sequelas pulmonares e descondicionamento muscular que muitos deles apresentam na fase de recuperação.